sábado, 3 de abril de 2010

necessidades...

Poema da necessidade, por C.D.A.

É preciso casar João,
é preciso suportar antônio,
é preciso odiar Melquíades,
é preciso substituir nós todos.

(...)

É preciso estudar volapuque,
é preciso estar sempre bêbedo,
é preciso ler Baudelaire,
é preciso colher as flores
de que rezam velhos autores.
(...)

escolhas


Há quem escolha o padrão


Há quem escolha o normal

Para não se ferir

Para não polemizar

Para não perder a calma

Para sofrer menos

Para discursar no mesmo tom

Para deslizar no mesmo som...



Há quem escolha o mais simples

O pouco sonhado

O nada complicado

Para amar igual

Para transparecer natural

Para se fazer habitual e não

Criar nada de anormal...



Há quem escolha a mesmice

As palavras decoradas

O mesmo cumprimento

Diário

A forma usual

Há quem acredite que escolhendo assim

Esteja colhendo o fruto carmim...



Eu escolho o que me escarnece

Aquilo que dilacera

Que expõe...

que é polêmica...



Sou a ousadia no gestual

A irreverência no pontual

Sou sangria desatada

Vou fundo,quero o profundo

Mentira me enlouquece

E falsidade bate de frente...



Com minha ira

Não quero unanimidade

Quero argumentação forjada

Naquilo que me convença

Quanto a viver,escolhi

O honesto...

o transparente...

A carne exposta...

a alma líquida...

e o coração alado...

Me queira como sou

Ou me deixe onde estou............


Autora: (Neguinha Mucelli)

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

pequenos olhares

Um passo para a descoberta. O que tanto Laura procurava entre as frestas das janelas, as lacunas entre as passagens, as portas entreabertas? Tinha a mania de observar com cuidado o que sempre estava escapando, escorregando do olhar e da atenção das pessoas comuns. Saiu de casa medindo os passos. A ânsia por liberdade não mudava. Pensava na maneira como ficamos cegos diante de coisas tão óbvias.
Do outro lado da rua Artur, dentro de sua casa, tomava café e via as últimas notícias no jornal. Por um instante escorregou os dedos sobre alguns nomes que lhe pareciam familiares. Já no quarto, Émilie, uma senhora de 70 anos olhava curiosa o movimento das borboletas que se aproximavam da janela. Do jardim, Laura observava as pessoas que passavam apressadamente para pegar o ônibus. O que todos olhavam? Em qual direção dirigiam seus passos? Nos pequenos, tímidos, rígidos, e cruéis olhares, a vontade de descobrir, de aproximar-se do outro. Universos particulares, idas divididas, escolhas feitas.