quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

pequenos olhares

Um passo para a descoberta. O que tanto Laura procurava entre as frestas das janelas, as lacunas entre as passagens, as portas entreabertas? Tinha a mania de observar com cuidado o que sempre estava escapando, escorregando do olhar e da atenção das pessoas comuns. Saiu de casa medindo os passos. A ânsia por liberdade não mudava. Pensava na maneira como ficamos cegos diante de coisas tão óbvias.
Do outro lado da rua Artur, dentro de sua casa, tomava café e via as últimas notícias no jornal. Por um instante escorregou os dedos sobre alguns nomes que lhe pareciam familiares. Já no quarto, Émilie, uma senhora de 70 anos olhava curiosa o movimento das borboletas que se aproximavam da janela. Do jardim, Laura observava as pessoas que passavam apressadamente para pegar o ônibus. O que todos olhavam? Em qual direção dirigiam seus passos? Nos pequenos, tímidos, rígidos, e cruéis olhares, a vontade de descobrir, de aproximar-se do outro. Universos particulares, idas divididas, escolhas feitas.